Alma de pássaro

Agora, na perfeita solidão do meu quarto, consigo sentir o cheiro da minha própria vida, só conseguindo reparar no cheiro da minha própria morte.

Sei que estou viva porque vou respirando, aos poucos, sentindo a dificuldade do tempo a emergir em cada poro que se vai fechando sem a vontade de viver.

Sei que estou morta, porque sinto o meu cérebro parado e o meu coração sem qualquer reacção, apenas envolto num mar de ilusão capaz de me transformar num poço vazio e sem vida.

Não duvido de que vivo morrendo, sem ter a capacidade de ressuscitar deste martírio violento que me transtorna a alma de pássaro que deixou de voar num céu sem quaisquer limites.

Um pássaro cujas asas foram cortadas para conseguir ter sempre os pés numa terra que sinto não me pertencer por necessitar de sobrevoar outras tantas mais coloridas e cheias de vida que me falta para viver longe desta morte de não pertencer a lugar algum que seja capaz de pisar com a pata deste pequeno pássaro em que me tornei, que já não voa, já não sonha, que já só vive morrendo.

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